Restabelecido da feijoada ecumênica em louvor a Himeneu, da qual fui conviva na noite de ontem, publico abaixo, conforme prometido e após a quebra do paradigma de "um posto por dia", o texto inédito dum colaborador idem, o Prof. Eleutheryo Planaldus. Confesso que ignoro quem ele seja, mas isso é irrelevante. Devido à forma, suscetível de ojerizar alguns habitués, relutei um pouco em fazê-lo: a escrita sui generis do autor dá a entender que ele foi refratário às reformas ortográficas da Língua Portuguesa (pra mim isso não é demérito; de certo modo, trata-se dum contraponto ao miguxês). Enfim, por vivificar um tema comumente árido, o conteúdo me encorajou a tirar tal carta da manga. Àqueles de maior sensibilidade, resta-me recomendar que pulem direto pros comentários. Aos demais, boa leitura.
Henze Saci, ilustrador
Em tempo: comovido pelas inúmeras súplicas, abaixo do original acrescentei a devida tradução.
Em tempo: comovido pelas inúmeras súplicas, abaixo do original acrescentei a devida tradução.
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O Nasemento da Pranxeta
O Nasemento da Pranxeta
Heyz qe reza a lejenda qe a tateca lodopedyzta propeamente dyta sorjeo no fotebol de botao (FB), cazoaomente creado por um brazelero no anno da premera Copa do Mondo (CM), noz ydoz de 1930, coando az coecaz soyam ter botoens. Asym como o pae do FB foe o avo doz seoz netoz, o FB foe o pae da nosa conesyda pranxeta (P) no fotebol de canpo (FC), asendensea qe sertoz eztodeozoz ententaram atreboer ao dedobol (D) e ao pebolym (PB). Ah rezpeyto de soa jenetryz, yzentamonoz de teser comentareoz.
Entre tanto a pasajem do FB ah P nao foe dereta, poez aveo um helemento de tranzesao: um cojunto formado por um retangolo de yzopor (Y) naz porporsoens do canpo (C) coberto na parte sopereor por um pheotro verde poqer con az lyneaz do C pentadaz de branco e 22 halphenetez con cabesa de bolynea coloreada, deferenseadoz em 2 metadez, yzto eh, 11 de cada eqypa (E) con color defrente da otra E.
Zaga (Z), lateraez (L: LD e LE), meocanpo (MC) e ataqe (A) poderam entao ser ezqematezadoz con segoransa e clareza. A bola (B) fora ezcanteada por ser secondarea, ou meleor fazendo uzo de vocabolareo hodyerno tornarase vertoao, encoanto a paleeta do FB perdera soa fonsao. Logo o G em apreso, dezconesedor do regyztro de patentez, vyo soa P vyrar phebre entre oz T profeseonaez, oz coaez seqer deranle credyto.
E dae em deante, endoujentez leytorez, oz T comesaram a organezear e deztreboer seoz jogadorez (J) pela P tateca (PT, ou senpelezmente P), lybertandose porezenplo do jogo da malea (ou tejo, boxa axatada, de dyzco) e doz anoez de jardym. Memoravez bataleaz e dezputaz foeram seendo travadaz e deztravadaz atravez da P tanto ah berada como adentro do C. Tam logo um T modefecava oz seoz J na P, o otro dava rezpozta do lado opozto, e veseversa, como deozez a conjelar e dezconjelar medeante ylapso oz movementoz de soaz creaturaz. Nozez tatecoz (NT) foeram aplecadoz, dezmanxadoz, reaplecadoz denovo, revertydoz, coreographadoz e telegraphadoz. Hera o fym da varjea (V), o ennyseo do fotebol moderno e a preeztorea do pozmoderno.
Alguuns T heram consederadoz hophensevyztaz, otroz dephensevyztaz e otroz aynda um meotermo, hora prevelejeando o MC hora az L e asym por deante. De modo jenerao, podese dezer qe o fotebol evoloeo (ou regredyo?) do hophensevyzmo ao dephensevyzmo ou seja o obejetyvo maeor pasou a ser menaz meter goloz (W) do qe nao oz tomarloz (seendo a defeza de 4 a preferyda atoaomente). Resaotemoz qe tao modansa nao ocorreo a penaz pela dezpozesao em ferroleenta retranca (R) maz pela denamyca da marcasao.
Condygheno de nota eh tanbeem a utelezasao de penseo atomeco apagaveo (PAA) em P branca, a partyr de consepesao enspyrada no jogo da velya (JV), no eznoqer (Q) e noz antygoz mapaz de canpana annotadoz por comandantez melytarez. Az damaz voltaram ao seo tabolero dando logar a uma porsao de Xyzez (X) relaseonadoz por setaz (S) e contrapoztadoz a Ozez (O) egoaomente ensetadoz, todo yso saydo da caexyna de sorpreezaz doz T. O reqeynte fecou porconta da phlanela (Ph) a ghyza de hapagador. Maez resentemente oz T comesaram a armarse de tabletez helektronycoz de phaboloza teknologya e ezmerado dezyghene em soaz maqenasoez, mormeente em M noturnaz e senpre con o coedado para qe o mezmo nao seja hafanado por alguum G mao entenseonado.
Yzto pozto, saleentamoz aynda qe dysecar oz meandroz tatecoz-syentyfecoz do lodopedyo eh tarefa asaz e deveraz conplecada, conseghyntemente contraendycada a oz leygoz e aventoreroz. Agradesemoz ah todoz pela atensao e peloz comentareoz qe porventura resebamoz em ezte preztejeado bologhe Ruqerraqe, e em ezpeseal ao seo ydealezador, aqi acrostycado. Qe o noso Colorado daz gloreaz syga senpre soa senda de vytoreaz! Sem maiz, sobescrevemonoz.
Prof. Eleutheryo Planaldus
Eztrategha e Hystoreador
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Tradução:
O Nascimento da Prancheta
Há indícios de que a tática ludopedista propriamente dita surgiu no futebol de botão (FB), casualmente criado por um brasileiro no ano da primeira Copa do Mundo (CM), nos idos de 1930, quando as cuecas soíam ter botões. Assim como o pai do FB foi o avô dos seus netos, o FB foi o pai da nossa conhecida prancheta (P) no futebol de campo (FC), ascendência que certos estudiosos intentaram atribuir ao dedobol (D) e ao pebolim (PB). A respeito de sua genetriz, isentamo-nos de tecer comentários.
Entretanto a passagem do FB à P não foi direta, pois houve um elemento de transição: um conjunto formado por um retângulo de isopor (Y) nas proporções do campo (C), coberto na parte superior por um feltro verde-pôquer com as linhas do C pintadas de branco e 22 alfinetes com cabeça de bolinha colorida, diferenciados em 2 metades, isto é, 11 de cada equipe (E) com cor diferente da outra E.
Nada obstante, a tentativa de manusear o aparato na casamata (K) logo se mostrou infrutífera: o Y rachava ou então o técnico (T) espetava o dedo no alfinete. Somente na década de 60, mais especificamente na Copa de 66, o inconveniente foi solucionado: um gandula (G) adaptou lâminas imantadas debaixo de suas peças do jogo-de-damas (JD) e dispô-las em cima dum retângulo de metal representando o C.
Zaga (Z), laterais (L: LD e LE), meio-campo (MC) e ataque (A) puderam então ser esquematizados com segurança e clareza. A bola (B) fora escanteada por ser secundária, ou melhor, fazendo uso de vocabulário hodierno, tornara-se virtual, enquanto a palheta do FB perdera sua função. Logo o G em apreço, desconhecedor do registro de patentes, viu sua P virar febre entre os T profissionais, os quais sequer lhe deram crédito.
E daí em diante, indulgentes leitores, os T começaram a organizar e distribuir seus jogadores (J) pela P tática (PT, ou simplesmente P), libertando-se por exemplo do jogo-da-malha (ou tejo, bocha achatada, de disco) e dos anões de jardim. Memoráveis batalhas e disputas foram sendo travadas e destravadas através da P tanto à beira como dentro do C. Tão logo um T modificava os seus J na P, o outro dava resposta do lado oposto, e vice-versa, como deuses a congelar e descongelar mediante ilapso os movimentos de suas criaturas. Nós táticos (NT) foram aplicados, desmanchados, reaplicados, revertidos, coreografados e telegrafados. Era o fim da várzea (V), o início do futebol moderno e a pré-história do pós-moderno.
Seguintemente, a disposição dos B da defesa ao ataque passou a ser representada em números pelos repórteres desportivos (RD), em conformidade com padrões de distribuição na P, excetuando-se o arqueiro (H), elemento fixo sem função tática (FT). Obviamente, tais padrões eram modificáveis mesmo durante a partida (M), causando às vezes certa confusão.
Alguns T eram considerados ofensivistas, outros defensivistas e outros ainda um meio-termo, ora privilegiando o MC, ora as L, e assim por diante. De modo geral, pode-se dizer que o futebol evoluiu (ou regrediu?) do ofensivismo ao defensivismo, ou seja, o objetivo maior passou a ser menos meter gols (W) do que não os tomar (sendo a defesa de 4 a preferida atualmente). Ressaltemos que tal mudança não ocorreu apenas pela disposição em ferrolhenta retranca (R), mas pela dinâmica da marcação.
Condigno de nota é também a utilização de pincel-atômico apagável (PAA) em P branca, a partir de concepção inspirada no jogo-da-velha (JV), no snooker (Q) e nos antigos mapas de campanha anotados por comandantes militares. As damas voltaram ao seu tabuleiro, dando lugar a uma porção de Xis (X) relacionados por setas (S) e contrapostos a Ós (O) igualmente ensetados, tudo isso saído da caixinha de surpresas dos T. O requinte ficou por conta da flanela (Ph) à guisa de apagador. Mais recentemente, os T começaram a armar-se de tablets de fabulosa tecnologia e esmerado design em suas maquinações, mormente em M noturnas e sempre com o cuidado para que o mesmo não seja afanado por algum G mal-intencionado.
Isto posto, salientamos ainda que dissecar os meandros tático-científicos do ludopédio é tarefa assaz e deveras complicada, conseguintemente contra-indicada a leigos e aventureiros. Agradecemos a todos pela atenção e pelos comentários que porventura recebamos neste prestigiado blogue Ruque-Raque, e em especial ao seu idealizador, aqui acrosticado. Que o nosso Colorado das glórias siga sempre sua senda de vitórias! Sem mais, subscrevemo-nos.
Prof. Eleutheryo Planaldus
Estratega e Historiador