sábado, 30 de setembro de 2023

Outubro Colorado, ou Nada: Libertas + Varzileirão© 2023 (e o "Eterno Retorno do Mesmo")


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O tempo é uma flecha curva, igual o arco que a dispara, e atravessa múltiplos alvos. Quando andamos pra frente, na verdade estamos indo pra trás — não de ré, mas de frente mesmo. Do futuro ninguém se lembra, embora ele vá se repetir no próprio passado, o qual está sempre vindo a nosso encontro à medida que o dito futuro vai-se indo enquanto caímos pra cima, tudo envolto num silêncio ensurdecedor que ninguém vê porque a luz alta de noite nos ofusca na combinação variante de sonho e realidade, sono e vigília, razão e devaneio, consciência e alienação, memória e amnésia, cosmos e anticosmos, corpo e anticorpo, matéria e espírito, ordem e caos, zero e um, yin e yang, etc.
 
Estas linhas que estás lendo e das quais não te recordas, já as leste e lerás infinitas vezes, tal como eu já as escrevi e escreverei noutros tantos instantes únicos, dos quais tampouco me lembro ou lembrarei. Cada um desses repetidos "Eus" e "Tus" conta com os seus próprios mesmíssimos pretéritos do futuro e futuros do pretérito que se sobrepõem aos demais numa constante onipresença, como se fossem os átomos ou bits de Deus ex-machinaO futuro é sempre passado de si mesmo e vai repetir-se como presente, sem tirar nem pôr.

O que quer que aconteça, estará inescapavelmente se repetindo ad infinitum. Quanto a nós, meros cocôs-de-mosca-na-vidraça do Universo, vivemos a mesma reencarnação em looping (como personagens dum filme), entremeada por limbos transubstanciais; quer gostemos disso ou deixemos de gostar, estamos eternamente retornando ao mesmo, like a virgin de verdade — e não como aquela da cena de abertura do Cães de Aluguel / Reservoir Dogs (cf. 2º póstch de maio no Ludopédio) — i.e. cabaços desmemoriados a quem no máximo é lícito gozar um déjà-vu de vez em quando. Resta-nos a convicção de que podemos investir no futuro e o consolo de que o que tiver de ser, será (até porque já o foi). Não existe além nem aquém: somente o aqui-e-agora, hic et nuncNada nunca é sempre tudo, e vice-versa. Pelear e chulear — de preferência rindo e dançando como um demônio ambivalente.

O melhor é não ter nascido; mas, visto que nascemos, então o melhor é morrer quando calhar, vivendo de modo que desejemos reviver tudo de novo outra vez: eis o imperativo categórico (e paregórico) na doutrina do Eterno Retorno do Mesmo (Die Ewige Wiederkunft des Gleichen), marmita dos pitagóricos, estoicos e neoplatônicos requentada pelo negão Nietzsche e seu avatar Zaratustra (Zara pros íntimos)*. Parece fácil, mas não é — pelo contrário, implica erguer "O mais pesado dos pesos"**, factível pelo exercício da Vontade de Phoder ou de Phodência/Putência (Wille zur Macht) dionisíaca e telêmica. Somente através dessa aceitação afirmativa e transformadora o vivente suplantará o niilismo passivo de "querer pra trás" dentro da Matrix (um autoplágio recorrente) e quebrará o Feitiço do Tempo.
 
* Há dois aspectos na doutrina do Eterno Retorno/Refluxo: o cosmológico, que pende pra retórica; e o experiencial, que pende pruma espécie de eudemonismo (cf. tb. eudaimonia) e amorfatismo (de Amor Fati: Amor ao Fado, anagramaticamente à Foda, remetendo ao francês je-m'en-foutisme, i.e. tô-pouco-me-fodentismo, dicionarizado como tanto-se-me-dá-como-se-me-deu e indiferentismosinônimo de je-m'en-fichisme, i.e. tô-pouco-me-lixandismo
ou tô-nem-aísmo; porém, a "indiferença" do Amor Fati nietzschiano é ardorosa). 
** Cf. §341 de A Gaia Ciência — in: NIETZSCHE, F.W. Obras Incompletas, coleção Os Pensadores 3ª ed. Abril Cultural 1983, trad. Rubens Rodrigues Torres Filho; peidéfi ed. Nova Cultural 1999 p.193; atualmente pela Editora 34.

O próprio negão Zara nunca esteve nem estará em nenhum lugar que não tenha estado ou esteja ou venha a estar — é inquilino de seus espaços-tempos, como se estivesse sempre em todos e nenhum de seus lugares, alhures e nenhures, tão vivo quanto morto (mais ou menos como o "Gato de Schrödinger", citado e lincado no póstch de agosto). A diferença é que ele personifica a superação de si mesmo através do Etorno Reterno (a exemplo de Odisseu, que não para de retornar a Ítaca).

Assim falou Henzetustra 
(eternamente retornando  do e ao Beira-Rio num pé de vento).

ATENÇÃO: o texto em tela constitui uma abordagem livre e pouco séria.
 
DICA de leitura (além dos links supra): artigo de Scarlett Marton, disponível no IMS e na USP (originalmente publicado em Nietzsche, uma Provocação, coord. Christoph Türcke, Ed. UFRGS & Goethe-Institut Porto Alegre 1994).

+DICA (by Dom Ciffo em 15/10): What is Virtue According to Nietzsche?

++DICA (by Henze em 16/10): Nietzsche fundou terrorismo do pensamento (FSP 20/05/1994). 


O presente tema foi suscitado por uma disqusão entre mim e Djamarro na bostagem anterior:
Links do papiamento (ordem regressiva, i.e. a partir dos mais recentes):
http://disq.us/p/2vpmdqr http://disq.us/p/2vpllo9 http://disq.us/p/2vpdx1k http://disq.us/p/2vpij46 http://disq.us/p/2vpikpq http://disq.us/p/2vpiuc6 http://disq.us/p/2vpu2i3 http://disq.us/p/2vpil6j http://disq.us/p/2vpj2b4 http://disq.us/p/2vpjcjm http://disq.us/p/2vpirj7 http://disq.us/p/2vpkmpg http://disq.us/p/2vpkhe5 http://disq.us/p/2vpkk3m http://disq.us/p/2vpkd60 http://disq.us/p/2vpk9gd http://disq.us/p/2vpk8dg http://disq.us/p/2vpk6au http://disq.us/p/2vpk32z http://disq.us/p/2vpju45 http://disq.us/p/2vpjs17 http://disq.us/p/2vpjonb http://disq.us/p/2vpjsk4 http://disq.us/p/2vpjm79 http://disq.us/p/2vpfwmr http://disq.us/p/2vphv9j http://disq.us/p/2vpih19 http://disq.us/p/2vphw8t http://disq.us/p/2vpjzod http://disq.us/p/2vphywr http://disq.us/p/2vpi84o http://disq.us/p/2vpi8wk http://disq.us/p/2vpi91c http://disq.us/p/2vpicgt


Ainda a propósito de Amor fatié o título duma bostagem antiga, que marcou uma pausa de quase 5 anos aqui no buteko. 

Aphex Twin - Stone In Focus - Philosophical Ape 2 hours

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