* saco obviamente no sentido figurado.
AVISO: É recomendável não prosseguir a leitura (queira aguardar o próximo posto).
Na real, assunto sempre tem: pega-se qualquer mote mais ou menos correlacionado à temática e manda ver na Arte de Encher Lingüiça (me recuso a escrever "linguiça"). Basta ter disposição. Ahã, mas na falta desta, como arranjá-la? Quem sabe um aditivo químico? Bá, se o bagual está meio na seqüela (trema!) ou indisPosto, esse subterfúgio nem dá pé. Mas enfim, momentos há em que tudo que o cara quiser dizer parece de antemão chover no molhado. Daí o melhor seria calar, nada proferir, que "o silêncio é de ouro" etc. Como isso não vem ao caso, talvez o melhor seja contar uma piada (ou preferem que eu fale da minha coleção esquecida de fitas K7? leia-se "cassette", i.e. "escrínio", "boceta"). É o momento de o Setor de Assuntos Aleatórios consultar a Central de Piadas na minha fatigada cachola. Veio logo a resposta, a princípio pouco original: pois a Central, tendo feito uma consulta ao Departamento de Memória Difusa, foi instruída a procurar o verbete piada na Wikipeida e dali retirar uma que obteve o 2º lugar numa pesquisa feita por uma universidade britânica. Ei-la:
A dedução de Watson
Sherlock Holmes e o doutor Watson vão acampar. Após um bom jantar e uma garrafa de vinho, entram nos sacos-de-dormir e caem no sono. Algumas horas depois, Holmes acorda e sacode o amigo. "— Watson, olhe para o céu estrelado. O que você deduz disso?". Depois de ponderar um pouco, Watson diz: "— Bem, astronomicamente, estimo que existam milhões de galáxias e potencialmente bilhões de planetas. Astrologicamente, posso dizer que Saturno está em Câncer. Teologicamente, eu creio que Deus e o universo são infinitos. Também dá para supor, pela posição das estrelas, que são cerca de 3h15 da madrugada… O que você me diz, Holmes?". Sherlock responde: "— Elementar, meu caro Watson. Roubaram a nossa barraca!"
Um Estudo em Vermelho (ou em Escalate), primeira aventura do Sherlock |
Sem adentrar no mérito das características desses célebres personagens (que aliás mal conheço), detendo-me apenas na piada, presumo que o sobressaltado ou sonolento Watson nem atinou processar a pegadinha à queima-roupa de Holmes, por isso acabou lascando uma série ilações alheias ao fato que saltava à vista. Da mesma forma, o leitor é ludibriado a ponto de deter-se na perspicácia de Watson, pra então também ser surpreendido pelo veredito de efeito chistoso. Porque, embora acampar remeta a barraca armada, a menção dos sacos-camas isenta-nos de necessariamente pensar nela: a dupla poderia ter resolvido dormir ao ar livre. Seja como for, não é justo dizermos: — Mas é um moscão esse doutor! Afinal, ele responde estritamente ao que lhe foi perguntado, e poderia até ter treplicado algo como: "— Elementar, é? E de quem foi a idéia de dormir fora da barraca?". Tampouco, embora verossímil, posso afirmar com certeza que Holmes quis sofisticamente distrair o parceiro antes de dar o veredito — isto é, já tinha percebido o roubo quando acordou o outro — em vez de apenas ter querido ganhar tempo ele mesmo pra inteirar-se do ocorrido. O interessante é que o contratempo proporcionou um momento de contemplação da abobada celeste.
Trio Nordestino - Cochilou cachimbo cai