Finalizamos a primeira etapa do ano de modo alvissareiro: dos 11 confrontos pelo Gauchonga, perdemos apenas 1 (Guarany fora) e empatamos 1 (São Luiz idem), com o plus de termos faturado o brenau 441; e também matamos o jogo único contra o ASA, válido pela 1.ª fase da CoBra.
Na sequência, as dificuldades obviamente aumentam — teremos pela frente apenas jogos de mata-mata. Do início de março até início de abril,
serão duas partidashaverá partida única dia 09/3 no Gigante pelas quartas do Gauchonga, contra o São Luiz, novo campeão da Recopa Gaúcha (meteu 2 a 0 no gremixo, que recusou as medalhas de vice), mais duas pelas sêmis e duas pela final (botando fé que chegaremos lá).Dia 13/3, a partida única pela 2.ª fase da CoBra, contra o Nova Iguaçu — de novo fora de casa, mas com a diferença de que o empata-foda leva pros penais (devido à inadequabilidade do Laranjão, a CBF definiu que será no Mané Garrincha). Há quem questione a regra do jogo único (Sandromes et alii), porque favorece apenas o anfitrião; porém, a justificativa é de que, nessas duas fases iniciais, os visitantes via de regra são mais ricos e mais fortes, com os eventuais fracassos entrando no rol das zebras e fiascos (foi o nosso caso ao perder de 2 x 0 pro Globo-RN em 2022). Não deixa de ser uma justificativa plausível, mas o regulamento de certo modo se contradiz ao permitir que 12 clubes entrem direto na 3.ª fase, com jogos de ida e volta (desses 12, de 7 a 9 destinam-se aos clubes classificados pra Libertas).
P.S. i: acrescente-se que o jogo único priva a equipa melhor ranqueada de faturar com a bilheteria em seu estádio; por outro lado, num contexto de calendário apertado, poupa-lhe um compromisso.
★★★
A esquadra coudeana parece ter encaixado nesse início de temporada; houve algumas ratiadas (sic) comprometedoras nos dois principais compromissos até agora, um atrás do outro (o gol contra do Renot 6 no brenau e a entregada do Igorgomes 3 contra o ASA, ambas logo após o apito inicial). A fotografia mudou bastante, e a fenestra fecha dia 7/3 (quinta que vem), portanto o Barcelino ligou o turbonitro a fim de concretizar novas negociações, tanto de saídas como de chegadas. O principal nome dentre as novidades até agora é o centroavante Al Ahrio aka Larika 31 — 1 gol dérbi (em 40s, 600.º dos brenais), 1 na CoBra (em 4min) e 1 no Gauchonga (contra o Brasil-Pel). Também digno de nota é o zagueiro Robenan 4. Dos que podem chegar antes do prazo supra, o mais aguardado é o atacante Borrègar, preso nas teias do Werder Bremen (depois de eu escrever isso, o Kommando anunciou que ele chega terça e que envergará a 19). Quanto a outro nome de peso, o volante Thiago Maia, tudo indica que a negociação melou. Fora isso, a contratação dum arqueiro se tornou prioridade, porque bateu a zica de tal modo, que o titular Rochot 33 está lesionado desde o final do ano passado, o substituto Quaresma 22 se machucou logo após ser apresentado e o sósia dele, Keila foi passado adiante (graças) — resumindo, estamos jogando com o 4.º da hierarquia, Anthony 24, tendo como reserva um guri de 16 anos; dentre as possibilidades, o do Atlético-Go, tendo Campari 17 como parcela da transação) e o do Olímpia-Par. Mais 3 defenestráveis: Zadriano 9 (vai pro Vitória), DesPena 14 e Gabriel 23. Outra possível chegada, na categoria "necessidade unânime": um lateral-esquerdo pra assumir a titularidade do Renot 6, que continua comprometendo (eufemismo); e talvez mais uma zagueiro.
Em adendo a essa encheção de morcilha, uma confissão: dos primeiros 12 jogos de 2024, assisti a somente 2 e 1/2: na tereza, São José (completo) e Arapiraquense (1.º tempo e minutos finais); in loco, Humaitense.
Na bostagem anterior, houve dois papiamêntu (sic) que podem ser correlacionados um com o outro: primeiro, sobre o sentido da vida; segundo, sobre o desgaste emocional em jogos de peso, no caso o brenau passado (#441).
À pergunta Qual o sentido da vida?, muitas e variadas tentativas de resposta foram dadas por filósofos, teólogos (categoria na qual Nietzsche colocou todos os filósofos alemães antes dele), cientistas, psicólogos, místicos, romancistas, dramaturgos, poetas, humoristas, bagaceiros e vagabundos em geral, et alii. Algumas delas, grosso modo, afirmam que: o sentido da vida é viver assim ou assado; o sentido da vida está na próxima vida (na eterna ou na reencarnada); o sentido da vida está na sua falta de sentido, na aceitação ou superação do absurdo e do niilismo, na consciência ou adiamento da morte, etc. etc. Em comum, por considerarem-na legítima, essas tentativas outorgam-se a possibilidade ou mesmo o direito de, com exclusividade, respondê-la — afinal, se ela pode ser feita, decerto pode ser respondida, e se a resposta está correta ou não, o problema não é da pergunta. Será? Porque exemplo de pergunta sem sentido é o que não falta. Talvez o problema, de fato, não seja a pergunta em si, mas sim as respostas, que a invalidam ou anulam devido aos vieses, desdobramentos, vaguezas e redundâncias que carregam (e.g. O que acontece no post-mortem?). Nada me impede porém de dar uma de esperto e responder que o sentido da vida está em perguntar-se sobre o sentido da vida (i.e. não terceirizá-la, o que não implica autossuficiência). Ou ainda, poupando-me o trabalho de respondê-la: seja por tomá-la como ociosa (i.e. não vale a pena perder tempo com ela); seja por negar-lhe o status de perguntável, pelo simples fato de não serem respondíveis — este é o caso dos positivistas lógicos e de Wittgenstein, que escreveu em seu Tractatus logico-philosophicus:
6.521 - A solução do problema da vida se faz notar no desaparecimento desse problema.
(Não está aí o motivo por que pessoas às quais o sentido da vida se tornou claro após prolongadas dúvidas, por que não se viram então capazes de dizer no quê consistia tal sentido?)[traduzido do original alemão por Henze Saci, dublê de filósofo]
★★★
Mesmo supondo que não seja uma pergunta vazia, desprovida de sentido, não dá pra negar que é problemático definir conceitos abstratos. Mas se ela é feita como expressão dum anseio, duma angústia, dum momento de crise existencial, esses poréns meio que ficam à margem. Inclusive ela se apresenta mais em momentos pouco animadores, tomando um aspecto circunstancial e apelando retoricamente a um pragmatismo que parece inviável — e.g. "Viver assim pra quê?!", "De que vale viver neste mundo?!", etc. Numa esfera mais restrita, a do futebol, pode traduzir-se como "Pra que torcer, se não ganho nada com isso e só me estresso?!". E aqui entra o mote que apontei supra: o dérbi domingo passado. É o jogo por excelência que, em geral, não faço quase questão de assistir — muito "desespero" pro meu gosto; mas se é pra assistir, que seja no Bêra, porque é bem menos pior do que ver na tereza ou tentar fazer outra coisa nada a ver; mesmo assim, não vou em todos. Pois bem, tinha decidido ir nesse, embora sozinho (o que pra mim não é problema, pelo contrário), e agi durante o dia como se fosse um compromisso chato, uma espécie de obrigação; esperei até o limite do horário pra sair, e me pus a caminho com o ânimo dum condenado, uma pedra de criptonita em cada bolso (não tanto pelo jogo, mas pelo desalento geral e a canseira). Mal andei um pedaço, uma frase pichada me chamou atenção (tenho mania de ler qualquer bagulho à vista): A felicidade é passageira; [até aqui, tudo bem] o sofrimento dura pra sempre (ou é eterno, tantôfas). [#tomanoku] Quando vi, já tinha lido, e uma vez lido, não tem como desler. Resultado: um segundo saco de cimento nos ombros. Não dá nada, só de raiva apertei o passo. Tudo isso de bico seco. O resto do caminho colaborou, me distraiu até — poupo dos detalhes o abominável leitor. Lá estou eu, bem instalado, estádio cheio, faltando (se não me falha a memória, porque ultimamente tem me falhado bastante) uns 20 minutos. Olho de revesgueio pra torcida arquirrival, um sneer com o canino direito, enquanto admiro a beleza e vibração da torcida colorada, e súbito me sinto como que alheio a tudo, quase sem saber por que estava ali. Entram as equipas, show alvirrubro, apita o árbitro (notório bremista), começa a correria! Continuo gelo. Dali a pouco, uma bola morta vira gol contra pelas patas de nosso excelentíssimo lateral-esquerdo, Renot número 6. Logo após os impropérios de praxe, em vez de voltar ao meu estupor, entro numa espécie de paranoia autocensurante e passo a me questionar por que tinha ido até lá, por que raios era torcedor, como faria pra me livrar daquilo tudo e levar uma vida pacata (a angústia ficava por conta da certeza de não haver saída).
P.S. ii: durante esse delírio, vejo à média distância algo chocante mas finjo que não vi, a saber, o número 27 seguido de 2 zeros, em tamanho chamativo (pra não deixar dúvida), indicando o preço salgado da fatia de pizza vendida pelo ambulante que circulava no setor. Era um sinal que eu só reconheceria a posteriori...
Parecia ter transcorrido uma eternidade (foram 10 minutos), quando saiu o gol de empate! Explosão da torcida! Foi como uma injeção de adrenalina, o encosto se escafedeu, conjurei mil redemoinhos e joguei junto mais do que nunca.
P.S. iii: o autor do gol, todos sabemos, foi Mauricinho, que enverga a camisola número? 27 — bingo! Mauricinho pizzaiolo!
Daí tomamos de novo, golzito cagado, mas nem me abalei. Não demorou pra mais uma vez igualarmos (bastou o Larika 31 entrar). Ambos os lados queriam vencer a todo custo, porque valia a mais-valia do vantajoso 1º lugar. Até que nasceu a virada aos 52'(de penal, quem diria, batido pelo Alampa 10), com direito ao entrevero das gazelas envaretadas que se seguiu no relvado! Naquele momento, o sentido da vida era estar ali torcendo.
P.S. iv: a saída foi extática, como não poderia deixar de sê-lo; me concedi 2 chopes session e, na volta pra casa, me dei ao trabalho de procurar a tal pichação: não achei! tinha sumido!
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(Entoado conforme a música supra; especial atenção à pronúncia do H e do S, que em japonês soam respectivamente como o nosso RR e SS.)