quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Gramado

Sim, é a cara Capital das Hortênsias, onde recentemente passei um fíndi a dois, com direito a suíte com hidromassagem e tudo mais. Mas não é sobre isso que versa este posto, até porque fugiria da temática do blogue.
O título monovocabular se refere ao palco do espetáculo maior chamado Futebol, i.e. ao RELVADO (como dizem os portugas). É pra onde todas as atenções se voltam, o tapete mágico onde transcorre a trama ora tediosa ou brochante, ora dramática ou eletrizante. Dele depende a inspiração e o desempenho dos atores e também das cavalgaduras. Mas esse palco é como um belo jardim, não se cria nem se mantém ao natural e tampouco com amadorismo. É preciso engenho e saber-fazer (savoir-faire, know-how).
Mas chega de firula. O tema é a RELVA do novo Beira-Rio, que está prestes a ser semeado e plantado. Longe de ser um capim ou pasto qualquer, a gramínea escolhida apresenta qualidades excepcionais e crescerá sobre um terreno elaborado com base numa tecnologia de ponta.
Na natureza selvagem
Pra nos esclarecer alguns pormenores a respeito, entrevistamos ninguém menos que o pesquisador-chefe do Laboratório de Graminística Aplicada da Faculdade de Agronomia e Jardinagem da renomada Humboldt Universität, Berlin, Prof. Dr. Günter Grass, que presta assessoria a empresas especializadas em cultivo de gramados esportivos na Europa e no resto do mundo.

Henze Saci:Herr Professor, seus estudos elevaram a excelência dos gramados nos principais estádios de futebol...
Prof. Dr. Günter Grass: — E também nos estádios de tênis e campos de golfe.
HS: — Sim, onde quer que uma grama especial faça diferença. Mas no caso do futebol, o padrão exigido pela FIFA obriga os clubes a investirem alto em seus gramados...  
GG: — Não só a FIFA e a UEFA, também as redes de televisão e os próprios clubes. Em parte pelo fator visual, e a estética é importante tanto na tela como ‘in loco’, e em parte por questões técnicas, no sentido de otimizarem o desempenho dos atletas e evitar-lhes lesões ou fadiga excessiva.
HS: — Qual o diferencial dessa grama? Podemos chamá-la de supergrama?
GG: — Supergrama talvez seja um termo exagerado, mas pode-se dizer que está pras gramas comuns assim como estas estão pro capim.
HS: —Ahã, e no que ela é melhor que as gramas comuns ou o capim?
GG: — Veja bem, a ‘supergrama’, como queira, é fruto dum contínuo aperfeiçoamento, de modo a adaptar-se perfeitamente aos mais diversos microclimas, suportar intempéries, manter-se no nível desejado, etc.
HS: — Como assim, “manter-se no nível desejado”? 
GG: — Ela tem de crescer o bastante, nem mais nem menos. Se cresce muito rápido, há a necessidade de que seja aparada com muita freqüência, e isso prejudica a sua durabilidade, além de ser inconveniente; se cresce de menos, pior ainda, o solo começa a aparecer e a erodir.
Prof. Dr. Günter Grass em pesquisa-de-campo
HS: — Ou seja, num caso vira pasto ou capinzal; no outro, fica parecendo uma plantação de batatas. 
GG: — Exato. Ademais, é desejável que cresça uniformemente. 
HS: — É uma grama transgênica?
GG: — Rã-rãmmm! O adjetivo “transgênico” está impregnado duma conotação meio pejorativa. Em todo caso, é inadequado à grama esportiva, pois ela não é modificada geneticamente, no sentido estrito do termo. Ela advém do cultivo experimental e da miscigenação controlada de certas variedades.
HS: — É um meio-termo?
GG: — Veja bem, é um meio-termo no sentido de reunir as qualidades da grama natural e da sintética, metaforicamente falando, um verdadeiro tapetão.
HS: — E ela requer o uso de chuteiras especiais?
GG: — De modo algum. No caso, requer apenas um terreno específico, plano, uniforme, dotado tanto de irrigação quanto de drenagem adequadas.
HS: — A drenagem será a vácuo, secará até o suor dos uniformes durante as partidas. Mas falando em terreno, o do Estádio Beira-Rio, que, como o Sr. sabe, está sendo reformado em função da Copa do Mundo, enfim, os elementos desse terreno, com camadas de brita e areia, foram enviados pra análise nos Estados Unidos, na Europa e no Japão. Na camada arenosa inclui ainda fibras elásticas de papoula... Não é exagero, já que o relvado do Beira-Rio sempre se notabilizou por ser uns dos melhores do Brasil, tendo inclusive sido eleito mais duma vez como o melhor de todos em enquete feita junto aos times da Séria A? 
GG: — De jeito nenhum, porque tal substrato será permanente, dele dependendo que as sementes brotem e as mudas vinguem...
HS: — Partes das sementes e mudas é importada, do tipo bermuda, mais especificamente da marca Tiefgrand®, tida como inédita no Brasil (a qual será reforçada com a Lolium Perenne, vulgo azevém ou erva-castelhana, em função do inverno). O que o Sr. acha, vale a pena?
O Senhor é meu pastor, e eu quero pastar.
GG: — Ô se vale! Boa escolha, pois se trata duma variedade híbrida que foi desenvolvida na Universidade da Geórgia, a qual modéstia à parte sempre se vale de meus estudos e opiniões. Ela cresce bem, mesmo com pouco sol, é resistente ao frio e ao calor, densa e de tamanho médio, orientada verticalmente, de cor verde-escura e boa luminosidade (quer sob luz artificial, quer sob natural), viceja com pouco fertilizante e mesmo com pouca água, não é muito apreciada por gafanhotos e outras pragas...
HS: — Mas é comestível?
GG: — Perfeitamente, muito saborosa; lembra o radicchio (vulgo piçacam). 
HS: — E os quero-queros, ave-símbolo do Rio Grande do Sul, conhecida como “Sentinela dos Pampas” e parte integrante do espetáculo ludopédico no Beira-Rio, poderá habitar o novo gramado? 
GG: — Nem os jogadores e muito menos os quero-queros terão de se reabituar ao relvado.
HS: —  O Senhor pretende vir à Copa do Mundo?
GG: — Sim, estou muito interessado em conhecer as belezas naturais desse imenso país.
HS: — Pois venha à Porto Alegre, que não se arrependerá.
GG: — Sem dúvida.
HS: — Mais alguma informação que o Sr. gostaria de acrescentar.
GG: — Hã, deixe-me ver... Sim, sugiro que, na relva em apreço, imiscuam uma variedade compatível do trevo-de-quatro-folhas, a fim de proporcionar um visual diferenciado e trazer boa-sorte ao time da casa. E também que toquem música erudita à beira do gramado; Mozart por exemplo faz um bem danado às plantas.
Bucolismo
HS: — Transmitirei o seu alvitre ao nosso Diretor de Patrimônio. Muito obrigado pela privilegiada entrevista.
GG: — Não tem de quê, a satisfação foi minha. Uma ótima reforma pra vocês e cada vez mais sucesso.
HS: — Mais uma vez obrigado.
GG: — De nada.
HS:Auf Wiedersehen!
GG:Auf Wiedersehen!




BENZADEUS! (Le Ruque-Raque Blogue & The Black Tape Project)

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