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sábado, 2 de agosto de 2025

Colorado agosto 2025: Braza aka Varzileirão (5 rodadas) + Cobra (8ªs volta) + Libertas (8ªs ida & volta)

Enquanto isso, na Orrla do Guayba...


O Torcedor Brocha
by Henze Saci

O torcedor brocha come as nádegas da coroa e atira os ossos pro cachorro.

O torcedor brocha, futuro inquisidor, devora a súmula e soletra o calendário.

O torcedor brocha não anda nas nuvens. Sabe escolher seus apetrechos: a almofada, a corneta, o binóculo, as palavras-cruzadas, o boné, o fone antirruído, o sinalizador. Dança com eles. Conjura-os.

O torcedor brocha ateia fogo no vestiário pra testar a competência dos bombeiros.

O torcedor brocha, declarando superado o estatuto de 2003,  corrige o professor de direitologia. 

O torcedor brocha confessa-se ateu e à toa. Não devolve a bola pro gandula e manda-o se catar. Aplaude os ruins e vaia os bons.


O torcedor brocha é desmamado no primeiro dia. Despreza Rômulo e Remo. Acha a loba uma cadela. No pré-natal, gritava: “Champanha, mamãe! Rápido!”


O torcedor brocha decreta a alienação do treinador. Expulsa-o da casamata, com a roupa do corpo e amordaçado. (Mandou fazer uma faixa: Técnico bom é técnico demitido.)

O torcedor brocha repele as propostas da bandeirinha de dezoito anos, chamando-a de bisavó.

O torcedor brocha, escondendo os cartões do árbitro e trancando-o na cabine do VAR, obriga-o a refundar a pop art, única saída do impasse.

O torcedor brocha, refém do fator buceta©, ensina a maria-chuteira a amar. Dorme com o radinho debaixo da cama.

O torcedor brocha assiste somente aos jogos do seu time (e olhe lá!) — ouvindo death metal.

O torcedor brocha despreza clássico, uma desgraça que não deveria existir — salvo quando seu time ganha. 

O torcedor brocha adora passar um tempo na Zona.

O torcedor brocha considera as organizadas um bando de freirinhas no cio. Já os jogadores são tudo mercenário, merecem o chicote. 

O torcedor brocha nunca lava o "manto sagrado" — mais por preguiça do que por superstição.

O torcedor brocha esquece de comemorar gol que não seja decisivo, chorado ou de placa. 

O torcedor brocha não vê a hora de chegar a intertemporada, melhor época do ano.

O torcedor brocha nunca colecionou figurinha. É passadista por natureza e se diz neodecadente; não suporta o hic et nunc, e quanto ao porvir, resume-se a uma miragem. 

O torcedor brocha, dos animais só admite o quero-quero e o piloto de carrinho-maca. Deixa o cusco mesmo raivoso e o motorista de ambulância às pulgas.

O torcedor brocha benze o gramado em dia de temporal. 

O torcedor brocha acha que torcida não ganha jogo (até atrapalha). Prefere jogos de portões fechados.

O torcedor brocha abomina qualquer tipo de aposta — apostar pra quê!? (Talvez contra o próprio time...)

O torcedor brocha antefilma o acontecimento agressivo, o Apocalipse, lance capital.

O torcedor brocha festeja seu terceiro aniversário convidando o Saci e a Mula sem Cabeça pra jantar. Espetados na mesa três facões acesos.

O torcedor brocha despede a televisão, “brinquedo pra analfabetos, surdos, mudos, doentes, antinietzsches, padres, podres, velhotes”.

O torcedor brocha atira uma granada em forma de falo na mãe do Badanha, sepultando as Federações (só a várzea salva).


Versão semiparódica e/ou pastichada
de Murilo Mendes, in: Poesia Completa e Prosa
vol. único, Ed. Nova Aguilar, 1994, pp. 1013-1014.
O original linkado (in: Poliedro − Roma, 1965/66,
 Ed. José Olympio, 1972) difere num 
que outro detalhe da edição utilizada.
Texto sujeito a modificações sem prévio aviso.


O miojo do RRabbit (aka Roger Manjado)

O encéfalo do RRabbit está subdividido em 6 frames, sendo 3 em cada hemisfério: no esquerdo, os 3 primeiros frames; no direito, os 3 restantes. O espaço entre ambos os hemisférios chama-se interframe. Tal esquema se reproduz no tempo regulamentar de jogo, subdividindo-o em 6 blocos de 15 minutos:

      • de 00:00 a 15:00, 1.º frame;
      • de 15:01 a 30:00, 2.º frame;
      • de 30:01 a 45:00, 3.º frame;
      • intervalo de 15 minutos, interframe;
      • de 45:01 a 60:00, 4.º frame;
      • de 60:01 a 75:00, 5.º frame;
      • de 75:01 a 90:00, 6.º frame;
      • acréscimos, postframe.

Em regra, as substituições acontecem no início do 5.º frame (i.e. aos 15' da segunda etapa) e no do 6.º (aos 30'); eventualmente, devido a alguma intercorrência de ordem física, também se processam no interframe (i.e. na volta do vestiário). Esse cerebralismo rabbitiano propicia aos comandados ficarem de prontidão pras substituições, as quais obedecem não apenas ao esquema dos frames, internalizado pelos atletas como se fosse um miniciclo circadiano, mas também à hierarquia preestabelecida pelo treinador, de maneira a otimizar a organização da equipe.

A seguir, dois dos principais meio-campistas que amiúde tomam parte na dinâmica do sistema framista; ambos sabem de antemão como e quando se dará a substituição, bem como o que é preciso pra não deixar cair a peteca. 

Tia Gomaya, paranormal

Ronaldol, bailarino

 VAI SER PUNK 

1 x 2 Bambi's (dom 03/08, 20h30) BR #18

Pavão 1 x 1 (qua 06/08, 21h30) CB #8ª/volta 
O ELIMINADO (REPRISE)
Bisolero & Barcelino matutando no Parque Gigante
ao som de Quero-Quero
(José Cláudio Machado, álbum Canção do Gaúcho)

Energético 1 x 3 (sáb 09/08, 18h30) BR #19

Flamingo 1 x 0 (qua 13/08, 21h30) LA #8ª/ida

1 x 3 Flamingo (dom 17/08, 18h30) BR #20

0 x 2 Flamingo (qua 20/08, 21h30) LA #8ª/volta
O ELIMINADO 2 (REPRISE)
Acabou antes de começar...
Solucionado o mistério da Aurora Burreal
(Por causa do mico prateado, o marreco pagou o pato!)

Rapunzel 2 x 1 (sáb 23/08, 18h30) BR #21

2 x 1 Fortim (dom 31/08, 20h30) BR #22


CLASSIFICAÇÃO
→ BRAZA vai indo
→ COBRA não deu
 LIBERTAS já eras


Glenda Fairbach - I Want Two Guys In My Ass (1969)

quarta-feira, 9 de julho de 2025

Colorado julho 2025: Braza aka Varzileirão (4 rodadas) + Cobra (ida)


O torcedor é um masoquista

Quem torce, sofre (e se retorce). Torcer é sofrer (por antecipação). Em princípio, trata-se duma atividade positiva, escolhida "por livre e espontânea vontade"; no entanto, não se pode falar em vontade porque em seu âmago não é livre nem espontânea. A essa atividade subjaz um estado que se enraizou na identidade do sujeito. Torcer não é uma opção pra ele — é uma compulsão, uma necessidade, um imperativo categórico. Ser sujeito implica estar sujeito, como um joguete à mercê das vicissitudes. Isso não impede que o torcedor se sinta agente — porque incentiva, apoia, participa, dispende tempo e energia, gasta o que tem e até o que não tem. Ademais, não está sozinho — pelo contrário, faz parte do coletivo torcida, e tal pertencimento é tão compulsório quanto natural e afirmador. A partir do instante em que se reconhece torcedor, não cabe mais falar em escolha, em voltar atrás — é como se tivesse nascido assim.

Nesse universo, o irracional não quer saber do plausível, e a superstição é uma de suas armas. Se por acaso acontece o pior, se todas as expectativas acabam frustradas, o torcedor se retrai em meio a sentimentos contraditórios (culpa, raiva, alívio, complacência, apatia, etc.), decidido a "dar um tempo" ou mesmo a "largar de mão", até que novamente se assanha ao ouvir a Esperança lhe sussurrar algo de dentro da boceta de Pandora, de modo que os velhos bons tempos se insinuem no horizonte como uma miragem na qual é preciso acreditar com fervor. O escárnio dos rivais perderá sua força, porque quem ri por último, ri melhor — seja uma risada banguela, seja reluzente de ouro. Entrementes, pode encontrar consolo nas glórias passadas, ou sublimar seus anseios noutras atividades que lhe permitam fugir da realidade, ou se afundar no trabalho, ou recorrer a substâncias paregóricas e lenitivas. Contudo, por mais que se compraza com os reveses da fortuna, não há tempo pra ficar chorando o leite derramado e lambendo as feridas, porque novos desafios não param de bater à porta, e então a premência da superação age como tônico d'alma: a tensão, o medo e a angústia se transformam em firmeza. Momentos de revolta e indignação também são bem-vindos, assim como pequenas catarses. Outros tropeços e tombos sobrevirão, até que a boa fase retorne sem prévio aviso, e daí serão mobilizadas todas as armas, a hora H do dia D estará cada vez mais perto, o paroxismo tomará conta e bum! bam! bum! terá chegado a tão sonhada apoteose. No dia seguinte, a ressaca, a melancolia pós-coito, o presente do futuro, o fastio, a falta de sentido — o gozo esvaziou-lhe o ser, deixando-o negativo. Como bom masoquista, seu verdadeiro prazer estava na expectativa, na espera (nesse aspecto a analogia com a religião também funciona: o fiel não quer apressar sua chegada ao Paraíso)... Resta-lhe aguardar o início de mais um ciclo.

Mesmo que não saia da mesmice, da mediocridade, o torcedor tem outra chance de prazer: ver o arquirrival (e os rivais em geral) quebrar a cara. Esse evento é pra ele o suprassumo do que em alemão se chama Schadenfreude — a alegria de ver o outro se dar mal, a "satisfação com a desgraça alheia" (cf. dicionário Wahrig). Trata-se doutra versão do gozo masoquista a que o torcedor tem direito (segundo Deleuze/Delírio em Sacher-Masoch: o frio e o cruel, masoquismo não é o contrário de sadismo e tampouco seu complemento). No caso, é o famoso gozar com o pau do outro. Isso porém não sai de graça, pois o tormento maior é justamente ver o arquirrival se dar bem.

Em suma, ao virar torcedor o sujeito assina um contrato que dá plenos poderes à entidade que se convencionou chamar de "clube do coração", envergando a camisa-de-força (aka "manto sagrado") como escravo duma dominatrix e merecendo ser castigado, humilhado sem clemência, até quiçá chegar ao clímax — nesse processo vai residir o sentido fetichista de sua existência, cujo arquétipo é encarnado pelo personagem central da novela A Vênus das Peles (Venus im Pelz, 1870) e alter ego do autor, o qual viu a contragosto seu próprio nome ser usado pra batizar a parafilia também chamada de algolagnia passiva).

 

P.S. —  segue comentário/explicação do antepenúltimo parágrafo (em especial da frase "Trata-se doutra versão do gozo masoquista a que o torcedor tem direito"), na tentativa de dirimir a dúvida do matuto Pastor Bolota. 

A mesmice é um trem de brinquedo dando voltas, em contraposição a uma montanha-russa de verdade. Pra ver o outro (arquirrival) se dar mal, o torcedor se mobiliza como secador, um estado de alta-tensão nervosa que é proporcional às chances de sucesso e à importância do jogo. O triunfo do outro pode ser pior do que a derrocada de si próprio. O gozo no estado de secador acontece em forma de alívio, um antigozo que não chega a ser orgasmo (amiúde sem ereção, i.e. gozo de brocha), portanto mais humilhante e patético do que no estado torcedor propriamente dito. No secador, há um incremento da passividade efeminante, transformando-o em voyeur e cuckold ao mesmo tempo — eis aí uma ilustração dessa dinâmica psíquica. E se o arquirrival levar a melhor? Bom, nesse caso valerá a máxima: aquilo que mais se teme, é o que mais se deseja. E aquilo que mais se deseja, maior potencial de gozo tem. O gozo masoquista será, por definição, tanto mais intenso quanto mais for protraído. O temor dilata o tempo e aumenta o tesão (o crente reza com mais fervor quando sente o capeta mais próximo, fungando no cangote). E qual ato sexual ilustra o fracasso máximo do secador? Resposta: ser possuído por um futanari. A culpa, em última instância, será sua e somente sua, porque ele e somente ele fracassou como torcedor, ou melhor, sua dona o deixou na mão (i.e. como punheteiro). Moral da história: a bola pune! ou melhor: as bolas! pra deleite do eterno masoquista...

Em tempo — Wilhelm Reich, no capítulo O caráter masoquista, de seu livro Análise do Caráter (ed. Martins Fontes, 1989), cita a seguinte fala dum paciente, a ver com o medo de ser desapontado ou rejeitado: "Tenho de enfrentar a tarefa de introduzir um pênis que não tem ereção numa vagina que não me é oferecida." (p. 233)

 

Henze von Saci-Masoch


O Segundo Jogo

The Second Game (em cartaz), documentário, 97min., dir. Corneliu Porumboiu, Romênia 2014.
(O diretor já foi referido na bostagem de 20/01/2024, acerca de seu filme Futebol Infinito.) 
Pai e filho tiram uma VHS do baú. O conteúdo: um dérbi ocorrido há quase três décadas na Romênia ainda comunista — entre FC Dinamo București e FC Steaua București (este o time dos milicos; aquele, o da polícia secreta). A pressão sobre os juízes transcendia a esfera esportiva, uma vez que a política também entrava em campo... O pai era juiz e coube a ele apitar a tensa peleia. O filho tinha uns 8 anos e não seguiu os passos do pai — fez carreira de cineasta e agora teve a ideia de transformar em documentário a experiência de assistirem ao VT e irem tecendo comentários "em tempo real" acerca do andamento e estilo de jogo, das decisões tomadas ou não, das regras em relação às da atualidade (e.g. a possibilidade de o arqueiro pegar bola recuada), etc. Ao espectador, o que impressiona à primeira vista é a neve que caía sem parar (cenário ideal pra passear de trenó com o Santa Claus), os uniformes de meia-estação e o estádio lotado (a temperatura parecia estar alguns graus abaixo de zero, mas estava "apenas" 1 ou 2 graus negativos, segundo o pai/juiz); a seguir, impressiona também o quanto a partida era rápida e bem jogada (lá e cá), a despeito da intempérie. Nenhuma das equipas fazia cera, nenhum jogador simulava faltas nem nada. Nos lances ríspidos em que o tempo fechava, a câmera (eram só três) mostrava a torcida ou qualquer outra coisa, a fim de não transmitir mau exemplo. O juiz evitava marcar qualquer falta e não precisava distribuir cartões pra mostrar autoridade, além de não gostar de expulsões porque prejudicavam o espetáculo (um lance curioso que ele recorda sobre outro jogo que apitara: ao puxar o amarelo, viu o advertido retrucar com o sinal da cruz, como se estivesse diante do demônio, e tamanha afronta não pôde perdoar: ato contínuo, puxou o segundo amarelo). O filho, vendo o novo no velho, cogita que aquele jogo daria um bom filme; mas ao pai, sem tempo pra lamentar as neves dantanho e as coisas todas vãs, todas mudaves, aquilo tudo não passa duma roupa que não nos serve mais, varrida pelo vento da impermanência, como aquele VHS que hoje é streaming. 

 


RRabbit, o retorno...

→ RRabbit reapareceu dia 28 de junho

Não foi com paz de espírito que o adestrador colorado adentrou o recesso do Mundialixo de Clubs Fifarofa: em pleno Dia dos Namorados, viu-se flagrado na Zona, fato que o obrigou a buscar refúgio longe de casa. Notícias desencontradas deram conta de que ele havia sido visto em diferentes lugares: pescando na Lagoa dos Patos, meditando em Três Coroas, fazendo compras em Rivera, cavalgando nas Missões, admirando os cânions em São José dos Ausentes... Após duas semanas de paradeiro incerto, havia um suspense quanto a sua reapresentação com o grupo pra intertemporada de mais duas semanas. Chegou um pouco atrasado (decerto por culpa do uber), olhando de revesgueio, semblante de andarilho, meditabundo, barba por fazer, alguns quilinhos extras, meio abichornado. Ouviu as novidades sem demonstrar entusiasmo nem preocupação: um reforço aqui, outro acolá; o pessoal retornando do DM; as datas pras oitavas da Cobra e da Libertas. O primeiro compromisso da retomada calhou de ser em casa: pelo Brasa contra o Clitória, que tem os mesmos 11 pontos mas está em 16º, um andar acima da gente (e acaba de ser desclassificado no Nordestão; o Vozito, nosso adversário seguinte, decide a vaga hoje à noite). A palavra de ordem: serenidade. O pensamento: a sorte ajuda os bons a serem serendipistas. 

 

 

1 x 0 Clitória (sáb 12/07, 16h30) BR #13
1 x 0 Vozito (dom 20/07, 11h) BR #15
Peixereca 1 x 2 (qua 23/07, 21h30) BR #16
1 x 1 Bacalhau (dom 27/07, 18h30) BR #17
1 x 2 Pavão (qua 30/07, 21h30) CB #8ª/ida


CLASSIFICAÇÃO
→ BRAZA
COBRA

VERMELHO: A COR DO SUL
fim


Die Buben im Pelz - Venus im Pelz

BENZADEUS! (Le Ruque-Raque Blogue & The Black Tape Project)