Dungo durante a decisão contra o Esportivo (3/3/13) |
Todos conhecemos o temperamento de Dungo como “pessoa humana” e profissional: NITROGLICERINA PURA!
Essa característica rendeu e tem rendido bons momentos desde os tempos de jogador, com uma passagem memorável pelo Jubilo Iwata antes de vir encerrar a carreira no clube em que se criou (com direito àquele gol salvador), e mais recentemente como comandante-em-chefe da $elecinha, papel que ora exerce na Academia do Povo. O fato é que suas atitudes algo “histriônicas” (em gestos e palavras) constituem um prato-cheio, um show à parte.
Os alvos por excelência de seus esporros, gesticulações, indiretas e resmungos são a arbitragem e a mídia: quando não sobra pra uma, sobra pra outra. A primeira, vaidosamente norteada pelo princípio do Gumex, toma por afronta qualquer questionamento. A segunda, regulada pela hipocrisia, fica dividida entre dar corda e fazer média. As predisposições tomam forma a cada episódio, cuja dialética tem como síntese o ibope.
Dito isso, passemos ao mais recente ocorrido: a expulsão de Dungo na decisão contra o Esportivo.
Na partida anterior, contra o Brêmio também no Centenário, a arbitragem já havia computado alguns atritos com Dungo. Durante a semana, a coisa foi sendo elaborada de cada lado. Dungo sabia que a desforra contra ele viria já no próximo confronto. De fato, os Homens de Preto (ou melhor: de Lumicolor) dariam o troco. Em meio aos treinos, Dungo matutava sobre a Terceira Lei de Newton. E os árbitros tinham bastante tempo pra mexer os seus pauzinhos e mancomunar.
Em vista disso, o técnico então acionou seus informantes, ou melhor, suas fontes a fim de se inteirar sobre o que o esperava: o Seguro morreu de velho (cantou Jackson do Pandeiro e depois Tiririca), dona Prudência foi ao seu enterro, e o Desconfiado continua vivo.
Início da noite de sexta-feira, 1º de março, Dia Internacional da Proteção Civil: concentrado com o time em Caxias desde a véspera, Dungo degusta um expresso-duplo puro (i.e. sem açúcar nem adoçante, que de doce já basta a vida e adoçante é coisa de fresco) — hábito que aliás nunca lhe tirou o sono, pelo contrário — quando o seu telemóvel sinaliza uma mensagem. Aperta o aparelho como a uma botoeira de comando, firma as vistas e lê: “Tua cama tá feita”. A princípio, acha meio estranho, pois as camareiras não costumam mandar mensagens aos hóspedes. Esboça um sorriso enquanto ergue a “xicrinha” pra sorver mais um gole, no que é surpreendido por um gosto de alcatrão com lixívia, como se o café estivesse envenenado: de chofre o olhar fica estático, olhando pro nada, a cara se crispa em ricto de asco, e então, a um só tempo, a mão bate a xícara no pires e a boca cospe o café na mesa. "Filhos-duma-égua, fizeram uma reunião pra mi fudê!" Em seguida, pondo-se a mascar "no seco" um punhado de pastilhas de Magnésia Bisurada, irrompe da cadeira e dispara rumo às escadas; já antes de chegar à porta do quarto, conclui que sua expulsão está selada.
Acorda bem cedo de sonhos intranquilos e, sem conferir se está metamorfoseado em monstruoso inseto, desce pro desjejum, topando no caminho com o comentarista e colunista esportivo da Rébis conhecido como Guerrinha, a quem conta sobre a reunião que os ilibados árbitros se dignaram a fazer pra ferrá-lo, i.e. expulsá-lo da partida no dia seguinte.
Morta a charada, Dungo se pilha ainda mais pra decisão. Sua disposição de espírito é a de sempre: ser ele mesmo, autêntico, custe o que custar e doa a quem doer, jamais aceitando cavilações de tipos quaisquer.
Finalmente chega a hora da verdade. Começa a peleia. Tudo parece ocorrer mais ou menos dentro da normalidade. O adversário, comandado pelo amigo Winck, começa tentando truncar o jogo diante da "superioridade técnica" do Inter. Quase aos 30', o craque Furlã abre o placar com um canhotaço de longa distância. Vem o intervalo, os jogadores se mobilizam na saída do túnel antes de retornar pra etapa final; Dungo parece impaciente. A bola recomeça a rolar.
Um empate leva pros pênaltis. A agitação vai tomando conta do técnico colorado. Aos 22', o uruguaio dos loiros cachos entiarados computa outro gol de tirar o boné. Festa do time e da torcida colorada. Nem que a vaca tossisse o Tivo conseguiria tirar do Inter a vaga pra final. Mas há outras coisas em jogo: e.g. o tratamento dispensado pelo juiz aos nossos jogadores quando o adversário perde a esportiva. Dungo vai-se alterando, profere lisonjas, gesticula, careteia, ao passo que o 4º árbitro e o bandeirinha lhe lançam olhares cada vez mais marotos.
As câmeras e microfones estão a postos. A entidade começa a se manifestar inexoravelmente, tomam corpo as invectivas de Dungo contra Deus e o Diabo, a mãe do Badanha e os ascendentes de Matusalém até a 5ª geração. O instrumental midiático deixa em segundo plano o jogo e foca a "conversa". Tudo acontece muito rápido, faz menos de 5 minutos que saiu o gol. Nisso o Sr. Francisco Silva Neto reprime uma manifestação do nosso valoroso lateral-esquerdo Fabrício (codinome "Chupa-cabra") — eis o estopim. Dungo não mais se contém e berra aquela frase com vocação pra manchete que ressoou sua goela pelo saguão do hotel afora. Ato contínuo, o excelentíssimo juiz executa o que conluiara com seus pares (aos 27' do 2º tempo). Pronto, tudo está consumado.
Aos brados de "Pergunta pro Guerrinha! Pergunta pro Guerrinha!" no microfone da Rébis, Dungo se retira. Logo a seguir, a câmera o mostra espiando o jogo pela basculante como um biscateiro expiando a manguaça na delegacia (qualquer semelhança com o vice de futebol Marcelo Medeiros terá sido mera coincidência). De fato, está na sala do Jecrim, a única disponível com visão privilegiada pro gramado.
Próximo capítulo: Dungo volta à cidade natal pra disputar título contra o Saint Louis.
Em tempo (antes que me perguntem qual a minha fonte): Eu, Henze Saci I e único, declaro que me reservo o direito de preservar minha fonte.
Em tempo (antes que me perguntem qual a minha fonte): Eu, Henze Saci I e único, declaro que me reservo o direito de preservar minha fonte.