sábado, 23 de fevereiro de 2013

O SACI E O BARRETE FRÍGIO

Africano de barrete frígio
Todo mundo sabe que o Saci, mascote do nosso amado S.C. Internacional, surgiu no folclore indígena do Sul do Brasil (fins do séc. XVIII), na figura dum curumim endiabrado. Depois passou a ser representado como o conhecemos, sendo que o espírito da coisa continuou o mesmo: um negrinho perneta de gorro vermelho e cachimbo. Esse cachimbo dizem ser de influência africana; mas e o igualmente inseparável gorro encarnado, de conotação mágica, também veio daí?
É plausível que sim. Conjeturo que tenha adentrado na África a partir da Frígia, reino da Antiguidade situado no Centro-Oeste da Anatólia, atual Turquia (ver nota no final). Desse povo ficou célebre um adereço (vulgo "acessório") que cobria a cabeça de Páris (filho do rei troiano Príamo) e depois adotado no Império Romano pelos prisioneiros persas (Mitra, divindade da Pérsia, já no séc. XVI A.C. aparecia com ele, assim como os Reis Magos, nos quais simbolizava a magia) e em especial pelos escravos manumissos (i.e. alforriados), representando a LIBERDADE.

Barrete frígio
Trata-se do BARRETE FRÍGIO (pros romanos 'pileus', píleo), que nada mais era do que um gorro rubro. Bem mais tarde, essa carapuça se tornou símbolo da liberdade na Guerra da Independência dos Estados Unidos (1775 a 1783) — está na bandeira do Estado de Nova Iorque e no e no selo do Senado norte-americano. Ganhou fama durante a Revolução Francesa como insígnia da liberdade e do civismo, o gorro vermelho dos revolucionários ('le bonnet phrygien'); finda a Revolução, passou a adornar a formosa Marianne, figura alegórica da República Francesa. Na sequencia, foi usado pelos heróis nacionais do Québec, os Patriotas da rebelião de 1837-39. Do séc. XIX em diante, foi adotado como símbolo dalguns países latino-americanos (Paraguai, Argentina, Haiti, El Salvador, Cuba, Bolívia, Nicarágua, Colômbia).
Curiosamente, gorro semelhante é usado pelos Smurfs (Les Schtroumpfs); só o Papai Smurf usa o vermelho em vez do branco...
A digressão acima, que coloca em perspectiva horizontes remotos, pode parecer apenas encheção de linguiça, mas tem tudo a ver com a origem, a história, os ideais e a alma da Academia do Povo. E o seu avesso caracteriza nosso arquirrival, o clube da segregação e da soberba, com o qual mais uma vez nos defrontaremos neste domingo (pela 396ª vez). A peleia tem como palco o  Centenário, nossa casa provisória.
Marianne em versão 'sex appeal'




NOTA:
Frígia, antiga região do centro da Ásia Menor, ao Sul da Bitínia, que devia seu nome aos Brígios ou Bébrices, horda de Pelasgos da Trácia. Esta região dividia-se em Pequena e Grande Frígia; cidades principais: Icónio, Cízico, Lâmpsaco, Abido, Tróia, Górdio, Ancira, Pessinunte, célebre pelo culto de Cíbele. Os Frígios, cujas artes floresciam e cujo país era duma grande riqueza, repeliram os Hitidas; mas, no fim do séc. VII, Midas, seu último rei, viu os seus estados devastados pelos Cimérios. Conquistada por Creso, rei da Lídia, passou para o domínio dos Persas, dos Macedônios, dos Gálatas e por fim dos Romanos." (Lello Universal)



BENZADEUS! (Le Ruque-Raque Blogue & The Black Tape Project)

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