sexta-feira, 2 de agosto de 2013

O clássico no Humaitá

Por Ciffero de Parvalho
Ilustração: Henze Saci

Poderia escrever algo sobre a história do clássico, mas informações desse tipo, amplamente favoráveis ao Internacional, já estão disponíveis no próprio sítio do clube (acredito que o co-irmão deva ter também, em sítio próprio, sua interpretação – distorcida – da história do clássico, porém recuso-me a fazer tal exercício de masoquismo e buscá-la).
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Poderia, outrossim, escrever uma história eminentemente idiossincrática do clássico, trazendo-lhes, pela perspectiva pessoal, instantâneos (ou “snapshots”, como diriam os ingleses) de minha presença constante no Gigante da Beira-Rio, mas tal exercício egóico-solipsista pouco contribuiria para o que ocorrerá mais tarde no bairro Humaitá.
Bairro limítrofe da Capital, localizado na fronteira com o Município de Canoas, Humaitá é local ainda recente na história de Porto Alegre. Como tal, não se pode esperar que haja, naquelas plagas, tendência por este ou aquele clube. A própria precariedade urbanística de que se reveste o entorno do estádio lá instalado já dá azo a certa irrisão. Estamos, na verdade, em terra desconhecida à espera de um conquistador.
A Arena é um estádio sem raízes, em tudo semelhante a um playmobil em grande escala. Estádio de plástico, enfim – e com gramado ralo. Arquibancadas modernas e torcedores orgulhosos, quase todos vestidos de um azul que julgam cerúleo (mas que – passe a expressão popular – está mais para “saco de lixo”), compõem um invólucro enganoso, frio e inautêntico ao redor do relvado, porque ainda carente de fogo, de sangue vermelho, de poder rubro.
Desenraizada, a Arena espera que lhe plantem golos, sementes que, no futuro, venham, oxalá, a delinear mimeticamente história idêntica à ocorrida em inauguração de estádio dito olímpico – quando os deuses do futebol, encarnados, é claro, beberam à farta do leite que corria das tetas da deusa vitória.