sábado, 27 de abril de 2013

O Futebol Sete

Prof. Eleutheryo Planaldus
Ortografia, enxugamento, linques, notas, figuras: Henze Saci 

Talvez muitos aqui sejam adeptos do Futebol Sete (assim chamado no Rio Grande, berço da modalidade e da 1ª Federação), Social (termo surgido do fato de a prática ocorrer em clubes recreativos, sendo portando considerada elitista), ou Suíço, ou de Areia. Depois, chegada a popularidade e com ela a idéia de internacionalizar essa versão do ludopédio, adotou-se a língua franca: Society, também aportuguesado como Soçaite [N. do Trad.: não raro pronunciado com deboche pelo povo: "Soçáááiti"]. No entanto, a Federação Gaúcha reservou-se o direito de continuar utilizando o nome original. Em contrapartida, o resto do mundo não pôde ver-se livre do 7 (algarismo que a Numerologia carrega de simbolismo), de modo que acabou ficando Football 7 Society, contemplando gregos e troianos. A propósito, foi no estabelecimento dum comerciante grego em Livramento (cujo nome se perdeu na poeira do tempo), a Casa Grécia, que ocorreu a fundamental reunião que criou uma comissão destinada a estabelecer as regras da modalidade; corria o ano de 1968. Mas não vou delongar-me nesses importantes pormenores de ordem histórica. 
Minha intenção é tecer associações simbólicas e arquetípicas. Nesse sentido, tomo o 7 apenas de modo introdutório: a tradição esotérica o considera como o "número perfeito"; simboliza ele a união do corpo e da alma, da matéria e do espírito, representada geometricamente por um triângulo (a trindade divina) com um quadrado (os 4 elementos) e geologicamente pela Montanha, onde soem subir os místicos e alpinistas imbuídos da vontade de unir o humano ao divino. Albrecht Dürer, em sua famosa gravura Melancolia (1514), fez constar um Quadrado Mágico cujas somas (horizontais, verticais e diagonais) dão sempre 34, ou seja, noves fora (3 + 4) igual a 7.
No coração da montanha jaz a riqueza mineral, ou ainda subjaz o magma que a transforma em vulcão; ao derredor, florestas. Nas florestas e montanhas, viviam (e ainda vivem!) os gnomos, os elfos [N. do Trad.: em alemão, Elf também significa onze, sendo que um time de futebol é referido como die Elf, "os onze", remetendo die Elfen, "os elfos"; e o pênalti é Elfmeter, pois a marca da cal fica a 11 m da linha de gol] e os duendes — tais como os nibelungos e os 7 anões — criaturas adaptadas ao escuro, habitantes das cavernas, excelentes na forja e na mineração, artífices e guardiães, tanto benévolos como malévolos. Segundo especulações espeleológicas, bem antes de se tornarem enfeites de jardim e motivos de tatuagem, tinham lá seus jogos e entretenimentos. Um deles consistia em, formando duas equipas, disputar uma gema (trabalhada com maestria), ou mesmo uma trufa (daquelas que os restaurantes de luxo pagam uma fortuna pra disponibilizar a seus mais seletos clientes), quem sabe uma batata, enfim, algo que rolasse à base de chutes, e tentar tocá-la pra dentro da cavidade duma árvore providencialmente oca. No Brasil, o Saci e o Curupira não deixam de ser também uma variação desses espíritos da natureza denominados duendes [N. do Trad.: q.v. acima o respectivo linque].
Qualquer semelhança rudimentar com o ludopédio tal como hoje o conhecemos não terá sido mera coincidência — pelo contrário! E há fortes razões pra crermos que as equipas tinham sete integrantes cada. Afinal, por que os irmãos Grimm estipularam em sete o número dos anões, mineradores de diamante atrás de sete montanhas, os quais acolheram a perseguida Branca de Neve? E essa casinha deles, por sinal, não a desenham os miúdos fazendo um quadrado e colocando um triângulo à guisa de telhado? Dada a necessidade de organização, bem como o acanhamento da floresta e das galerias, sete se mostrou um número ideal de atividade em equipa, seja pra mineração, seja pro lazer.
No caso deste último, quando transportado aos campinhos de jardim, onde costuma não haver espaço pra muita gente, as crianças — eis a fase em que todos fomos anões! — não cansam de pintar o sete coletivamente jogando bola, amiúde sob a supervisão de gnomos e outras pequenas criaturas. Também na areia à guisa de campinho encontram terreno fértil à diversão, assim como os adultos; não à toa o Futebol Sete era jogado sobre terreno "praiano", muito antes da adoção do relvado sintético [N. do Trad.: o Brêmio Náutico Gaúcho foi o 1º clube da Capital a possuir um campo de areia pra esse fim, em meados da década de 1960, segundo a FGF7].
São sete os sábios da Grécia Antiga (onde os meninos começavam os estudos aos 7 anos), bem como os deuses originais do Egito, as maravilhas da Antigüidade, os pecados capitais, as virtudes cardeais, os dias da semana, etc. Em suma, o Futebol Sete tem raízes na Grécia Antiga, sendo depois cultivado pelas pequenas criaturas da Floresta Negra e arredores. [Nt. do Trad.: outros esportes com times de 7 são o Handebol, o Pólo Aquático, o Rúgbi de 7, o Quadribol, e o Frisbee Football.]